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Sem querer entrar no mérito da Fylgja, este texto buscará explanar sobre a simbologia animal em alguns mitos e a importância destes animais para o mundo nórdico como ensinamentos subliminares para a vida. Dentre os animais importantes e mais freqüentes nos mitos estão os falcões, corvos, águias, serpentes e lobos.

O Falcão desempenhou papel importante na mitologia. Associado à Freyja e à feitiçaria, o falcão era um animal dotado de dois poderes especiais: o vôo e a visão. O vôo simbolizava o poder de viagens, entre os mundos, do animal, bem como seu fácil alcance entre o céu e a terra, tornando-se um elo entre todos os seres e mundos. Freyja tinha uma capa de penas de falcão e com ela podia se transmutar em uma ave para alçar vôo entre os mundos em suas feitiçarias, seidr e spae. O mesmo acontecia com sua visão, que era um dote especial, uma vez que ia além do habitual alcance do homem. A visão do falcão era longínqua. No topo de Yggdrasil está uma grande ave que possui um falcão entre os seus olhos. Este falcão é o provedor da poderosa visão, muito semelhante à visão dos rincões que Odin obtém em Hlindiskjálf. Logo, temos o Falcão como um símbolo de conexão divina e espiritual, símbolo de equilíbrio entre o céu e a terra, provedor de visão e provedor da expansão do espírito para o além. No brasão da Islândia há quatro Landvaettir guardiões do país e um destes é um falcão de duas cabeças e longa cauda.

O pássaro em si sempre foi um indicador de conexão com o além, uma vez que ele podia alcançar espaços siderais remotos ao homem, como o céu e o horizonte desconhecido. Para a águia, ave de grande porte, fora tida uma associação com a força, com o horizonte e com a guerra. Em Yggdrasil, era o bater de asas da águia do topo da árvore que fazia ventar nos nove mundos. A águia era uma destroçadora de carne, caçadora impiedosa e rainha das aves por seu tamanho e força. Assim, estava associada de alguma forma ao deus Odin. Assim como a águia de Yggdrasil, provedora dos ventos, uma vez que seu tamanho era grande e o bater de suas asas era forte, e pelo fato da ave estar por cima, no topo ela tinha um espaço especial em relação aos outros seres. Assim, por ser associada ao vento, ela estava ligada ao ideal selvagem de liberdade e força.

Outra ave de grande importância para a Forn Sed foi o corvo. Dentre os mais misteriosos animais da mitologia nórdica estava a ave negra da morte. Associado à morte, à guerra, à magia, à mente e ao além, o corvo era o animal mais íntimo a Odin. Na mitologia está gravada que Hugin e Munin, “Pensamento” e “Memória”, voavam entre todos os mundos e contavam à Odin todas as notícias ocorridas no grande universo. Eram oniscientes seres capazes de pensar e narrar aventuranças dos homens ao deus do conhecimento. Assim como o lobo, o corvo estava presente nas batalhas, devorando a carniça dos guerreiros mortos, indicando a presença de Odin no local para recolher os escolhidos. A crença popular dizia que os corvos eram seres dotados de inteligência (não é a toa que é considerada pela zoologia a ave mais inteligente) e magia, sempre espreitando a morte por perto, tornando-se às vezes símbolo de mau agouro. Diz-se que se um corvo presencia a morte de alguém é sinal de que ele levará a alma deste para o além. O corvo era um símbolo de que a morte estava à espreita e que não podemos nos esconder de sua presença. Ao mesmo tempo ameaçador, ele também serve como uma promessa de conforto no além com Odin. 

Já o gato não tinha o vôo, mas tinha o poder de uma visão mágica. Podia ver os mortos e os vivos, assim como ver todos os mundos simultaneamente. O gato é misterioso, independente, associado também à sexualidade. Mas o gato nórdico não é representado simplesmente pelo gato doméstico. O animal de quem os mitos se referem é o típico gato selvagem do norte, talvez o lince, um animal grande, forte, com hábitos noturnos (como Freyja) e uma intensa sexualidade aflorada. Por ser forte e dotado desta visão mágica, ele puxava o carro da deusa Freyja e era tido por ela como um doce animal. E por serem independentes, fortes, de uma visão privilegiada, eram associados à liderança. Bygul e Trégul eram os gatos que puxavam a biga da deusa Freyja. Lembrando que assim como o gato, Freyja estava associada com os vivos e os mortos, com o sexo, com a liderança (é a Rainha das Walkyrjas), com a magia/mistério e também com a guerra e a morte.

A serpente ou dragão era um animal típico do submundo. Jormungandr, serpente filha de Loki, era a temida inimiga da força, pois era grande, pesada e de uma presença insuportável. Ela nada mais é do que a ira e a destruição, pois somente a raiva e o ódio podem desencadear sobre a força e a benevolência dos deuses tamanho prejuízo. Foi preciso que Thor (a força) prendesse Jormungandr (a ira destruidora) no Oceano (o submundo, o subconsciente, o subsolo da alma) de modo que ela não mais prejudicasse o cosmos (a ordem e o progresso dos seres com seus mundos). Neste sentido, a serpente está associada ao temor pelo o que habita o desconhecido selvagem do mundo pode trazer à perigosa vida dos nórdicos, ou ainda o medo que o desconhecido que habita nossa alma pode trazer a tona em momentos de crise existencial. Os nórdicos sabiam o poder destruidor que a ira tinha em batalha, mas também conheciam o poder que o ódio e a raiva poderiam trazer à tona tragédias à suas vidas. Não é a toa que o Hávamál está cheios de conselhos de prudência, disciplina e sabedoria. 

Ainda na mitologia nórdica temos outra serpente de suma importância: é Nídhögr, o dragão do submundo. Este dragão é responsável por guardar o submundo, o além, assim como punir àqueles que em vida causaram infortúnios como o roubo, o assassinato e a injúria. Claro, que este mito é uma resposta pagã ao mito cristão do inferno que pune os pecadores. Jamais houve no mundo nórdico um medo do além da morte com tortura e punições, ainda mais para uma sociedade guerreira que viviam de pilhagens, assaltos, comércio turbulento e colonização. O submundo e o além era uma promessa de descanso e precisavam ser guardados por criaturas dotadas se sabedoria que fossem capazes de manter este descanso imaculado. Este mito, assim como muitos outros, veio com o contato com os cristãos e em resposta à suas pregações. Mas, antes do mito do dragão torturador do submundo havia outro aspecto importante para ele: o dragão era o sagrado guardião do submundo, o rastejador da terra, àquele que habita as entranhas das cavernas e desce ao além. O desconhecido submundo estava claramente associado ao subsolo e ao subterrâneo e a morte só podia estar conectada ao desconhecido, uma vez que todos os corpos vão para as entranhas da terra e nas profundezas dela continuarão a suas existências de perecimento. Também para as profundezas da terra iam as serpentes e por este motivo elas estavam associadas à morte e ao subterrâneo. Logo, obtemos através da simbologia da serpente que o submundo está associado com a terra e com os seres rastejantes, e que estes mesmos seres são os protetores e carrascos de todas as coisas que habitam o subsolo e o além. Também observamos que a serpente não morre, mas sempre se transforma, em constante transmutação. Sua verdadeira morte física é um mistério. Ao invés de morrer, ela deixa seu corpo e o troca por um novo. Essa regeneração é importante para entendermos o porquê de ela ser a guardiã do além, pois está longe dos conceitos de morte mundanos. Dragão e Serpente (Ormur em Old Norse) são vida e morte em um só corpo, e, portanto saúde e doença, remédio e veneno. A serpente é o equilíbrio e os ciclos.

Outro animal que precisa ser narrado é o lobo. O lobo é consumidor compulsivo da vida. Ele destrói para sobreviver e possui uma fome insaciável. Selvagem, mateiro, faminto e dominador são conceitos atribuídos a ele. Em sua simbologia, o lobo é o desejo. Mas não é o desejo sexual que estamos falando (mas também pode ser observado por este prisma…), é o desejo em seu aspecto humano mais profundo: é anseio. O lobo aparece em vários mitos e em todos eles ele é fome insaciável, desejo, anseio incontrolável. Odin era guiado por dois lobos, Geri e Freki, que comiam junto com o deus e devoravam a carne dos mortos em batalha, pois a fome deles é insaciável. Háti e Skól eram os lobos que perseguiam os astros Sol e Lua, pois seus anseios incontroláveis faziam-nos perseguir suas aspirações a ponto da destruição. Também há Garm, o cão/lobo do submundo, que devorará o deus Odin no final dos tempos. E, por fim, o maior e melhor de todos os mitos é Fenris, filho de Loki. Fenris é a encarnação do desejo. Quanto mais ele comia, maior ficava e mais perigoso se tornava. Foi tão alimentado que ficou absurdamente grande de modo a obrigar os Aesir, temerosos por suas existências e vidas, a correrem o risco de prender o animal. Assim, Fenris (o desejo) foi preso por Tyr (a disciplina) através do flagelo da perda da mão do deus (o desapego, a doma do ego e abdicação do material em prol do espiritual). Logo, o lobo está associado ao desejo e à destruição, se estes não forem contidos e disciplinados. 

Para além dos mitos, estão muitos outros animais de grande importância para a Forn Sidr, mas que aqui não cabem esclarecer mais. Entretanto, vale citar que outros animais, como cabras (associados ao deus Thor, ao trabalho rural, à força), bois e vacas (associados à Grande Mãe, Erda, Jord e Nerthus, à fartura, e à terra cultivada), os cervos, os gamos e os veados (associados à Yggdrasil, como seres de renovação e mantenedores da saúde natural da árvore do mundo) e o javali (associado à Freyr, símbolo de fartura e prosperidade, bem como virilidade), etc.

A compreensão do papel simbólico dos animais nos mitos nórdicos é importante para a compreensão de ensinamentos advindos de uma religião rural que são válidos também para a vida do odinista moderno. 

Vagner Cruz – Julho de 2008.

fonte: http://aav-rn.blogspot.com/2012/06/simbologia-dos-animais-nos-mitos.html

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